243

por arrancar arvores, mas que, pode estar certo, com ellas arrancará uma vida.

—­Romances! Lena, romances! Os romances, lidos em plena aldeia, são perigosos. Falta aquí nos ares um certo scepticismo que, não sendo em dóses exaggeradas, tem a vantagem de não deixar vêr as coisas da vida através do prisma dos livros de imaginação. Mas basta de falar em politica. Ámanhã procurarei o herbanario. Espero uma recepção de gêlo, e vou preparado para uma ladainha de recriminações, mas irei. Nada esperes, porém, da entrevista, Lena; nem o mal, se mal é, se poderia já atalhar; nem o orgulho de Vicente lhe permittiria expansões á sensibilidade, que cheguem a commover-me. Conheço-o.

Magdalena não instou. Ficou, porém, pensativa e sem o menor vestigio da alegría, com que principiara o serão.

N’isto ouviu-se um toque de sino longinquo.

—­Já toca para a missa do gallo! Ouvem?—­disse D. Victoria.

—­Vamos! Não ha tempo para demoras—­exclamou o conselheiro, levantando-se.

Todos o imitaram, menos Magdalena.

—­Não vens, Lena?—­perguntou Christina.

—­Não.

—­São amúos, filha!—­disse-lhe o conselheiro, indo por traz d’ella; e, tomando-lhe a cabeça entre as mãos, beijou-a na fronte.

—­Não, meu pae, é uma dôr de cabeça tão violenta!

—­A maldita politica é o que faz! Pois fica; fica, porque está fria a noite.

—­Far-te-hei companhia, Lena, disse Christina.

—­Não, não. Se insistes, obrigas-me a sair.

—­Aviem-se!—­dizia D. Dorothéa.—­Henriquinho, vens?

Henrique, cujo ardor em ouvir a missa da meia noite esfriou desde que viu Magdalena ficar, respondeu: