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— Não; elle ignora o mal que isto lhe causa, creia. Sabendo-o, verá como...

— Teu pae conhece-me, Magdalena. Teu pae conhece-me, e ha muito. Não julgues que pode errar, calculando o effeito d’este golpe. Mas que queres tu? ensinaram-lhe já a avaliar em pouco as venetas de um velho quasi tonto. Homens que trazem o pensamento em interesses tão altos, não teem vista para estas pequenas desgraças.

Magdalena sentia-se possuir de uma profunda tristeza, ao ouvir falar o herbanario. Era uma dolorosa provação para o seu amor de filha vêr assim uma nuvem de desconfiança offuscar a ideal concepção que ella formára do pae, e não ter fôrças para a afugentar. Ás vezes uma dúvida cruel fazia-lhe, a seu pesar, suppôr que o herbanario tinha razão. Agora só conseguia oppôr um gesto supplicante áquellas acerbas accusações, que por muito tempo ainda desattenderam esta supplica muda.

A final serenou a violencia da irritação do velho; succedeu-lhe, porém, uma commoção profunda, dominado por a qual disse a Magdalena:

— Socega, Lena; ámanhã eu receberei teu pae sem a menor aspereza. Fizeste bem em vir primeiro, filha. Se o não esperasse, talvez não soubesse conter-me. Agradecido. Uma noite é bastante para me preparar. Agora vae, deixa-me só; deixa-me... chorar.

E cobrindo o rosto com as mãos, deixou-se cair, soluçando, sobre a mesa, junto da qual se achava.

Magdalena correu para elle, commovida.

— Então, tio Vicente, então! Socegue! Ámanhã meu pae virá. Fale-lhe, e eu espero que ainda será tempo de evitar... o mal.

— Pode ser, pode ser... — respondia o velho. — E se não pudér, Deus me acudirá, para não viver por muito tempo fóra da casa em que nasci.

Magdalena já não tinha que lhe dizer.

— Eu pedirei tambem, e Christina, e todos pediremos, como já pedimos. Tenho esperança.