— Não, filha, não peças tu. Deixa-me só com teu pae ámanhã. Disseste que tinhas vindo, sem ninguem saber? — continuou elle. — Olha que te não dêem pela falta. Vae, que é tempo.
— Mas...
— Vae, filha. Eu estou já tranquillo. Bem vês. Deus te recompense a bondade que tiveste. Vae. Queres que te acompanhe?
— Não é preciso. Vim pela porta das prezas, que deixei aberta. São dois passos e estou na quinta. Mas, tio Vicente...
— Vae então; e Deus te abençoe.
E o velho pousou a mão sobre a cabeça de Magdalena, que saiu commovida.
E elle caiu outra vez sobre a mesa, sem reter o pranto que lhe rebentava dos olhos.
É sombria a saudade n’aquellas idades, porque as esperanças são já muito debeis para lhe darem luz.
Saindo de casa do herbanario, perturbada ainda pelos sentimentos que alli a tinham agitado, a morgadinha dirigiu-se á pressa para a porta da quinta, por onde saira. Ao impellil-a para entrar, a porta resistiu. Este facto surprehendeu e inquietou um pouco Magdalena. Quem poderia ter fechado a porta? E se effectivamente estava fechada, tornava-se-lhe necessario um longo rodeio pela aldeia para chegar a outra, que pudesse encontrar aberta.
N’esta hesitação impelliu outra vez instinctivamente a porta, que lhe oppoz a mesma resistencia.
Cêdo, porém, sentiu o rodar da chave na fechadura e viu mover-se lentamente a porta, e no vão, que augmentava, desenhar-se uma figura de homem.
Antes que pudésse, através da obscuridade da noite, reconhecer a pessoa, que assim tão a proposito lhe acudia, deram-lh’a a conhecer estas palavras:
— Muito boas noites, prima Magdalena. Espero