Henrique sentiu-se embaraçado com isto. Custava um pouco á sua vaidade este nenhum vestigio de resentimento ou de receio, que encontrava em Magdalena.
No entretanto D. Victoria continuava a commentar com D. Dorothéa o facto das passadas que ouvira de noite.
— Deixe-se d’isso, prima. É porque não sabe o que vae. São coisas d’estes criados. Não faz ideia! É uma pouca vergonha! É preciso paciencia de santa para os aturar.
— Angelo, — disse a morgadinha ao irmão — entretido como estás a conversar com as creanças, esqueces-te de servir a Christe, que tambem se esquece de se fazer lembrar. Que distracções por aqui vão!
Angelo reparou para a prima, que em todo aquelle tempo estivera calada e caida em uma d’aquellas abstracções, a que ultimamente era sujeita.
— Eu não sei que tem hoje esta Christe — disse Angelo. — Julgo que lhe fez mal o frio na noite de hontem.
— É verdade, até está falta de côr! Ora queira Deus que não seja coisa de cuidado. Dóe-te alguma coisa, menina? — perguntou D. Victoria, apprehensiva.
— Não, mamã — respondeu Christina.
— Ó meninas, vocês tambem são umas desacauteladas. Eu bem te dizia hontem, Christe, que levasses mais roupa. Tudo é não faz mal, tudo é não tem dúvida, e depois é que vem o queixarem-se.
Isto disse a senhora de Alvapenha e muitas coisas mais n’este sentido. Estas reflexões fizeram Henrique desviar os olhos para a pessoa que era objecto d’ellas.
Christina estava effectivamnte pallida e pensativa; e d’esta côr e d’esta expressão recebia uns ares de poesia melancolica, que a tornava mais graciosa.
Henrique notou pela primeira vez a belleza d’esta