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na terra, emquanto eu andei por fóra! O peor é que não sei se a coisa irá assim ás mãos lavadas; ao que já ouço por ahi rosnar!... É o diabo!... Eu digo, não sei se é do costume em que uma pessoa se põe... mas... lembrar-se, a gente de que fica assim á chuva e ao sol... Mas é do costume, é... Bem sente lá uma pessoa o frio depois de morta.

E fazendo estas reflexões proseguiu no seu caminho.

Passou por uma pequena capella, erecta á borda de um pinheiral, sob a invocação da Virgem da Esperança, e reteve-se a fazer oração. Áquella imagem costumava encommendar a filha, sempre que saía da aldeia, e no regresso pagava-lhe em fervorosas orações a protecção obtida, e separava-se d’alli mais consolado e tranquillo. D’esta vez, porém, ficou triste e sobresaltado. Porquê?

É que se lembrára de que tinha, ao partir, deixado Ermelinda doente, e estremecia agora na incerteza de como a iria achar.

Esta ideia fel-o apressar o passo, como se quizesse, quanto antes, tirar-se d’aquella incerteza; mas desde que avistou os telhados e muros da casa parou irresoluto.

Parece que os objectos inanimados nem sempre teem para nós um mesmo aspecto. Ha occasiões em que as casas, as arvores, os muros, as portas, se nos mostram com certos ares melancolicos, e quasi direi pensativos, que nos enchem de sombras o coração; outras em que umas apparencias de sorrisos lhes dão uns ares de festa que alegram e convidam.

Ao Herodes apparecia-lhe triste d’esta vez a casa, que de ordinario, ao avistal-a, lhe enviava um sorriso a dar-lhe as boas vindas.

Seria o effeito das tintas desmaiadas, que dá aos objectos o sol crepuscular? Seria o reflexo dos presentimentos proprios, que lhe estavam confrangendo o coração? Mas como lhe acudiram tão de subito