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parece que não morreu? Ar, ar, é do que ella precisa.

E erguendo-se, correu, com a filha nos braços, para o meio da rua.

Ermelinda ainda estava sem accôrdo. Juntaram-se algumas mulheres, attrahidas pelo espectaculo e pelas arguições da beata, que não cessára de falar.

Foi voz unanime que a pequena estava a expirar. O Cancella tremia e pedia por amor de Deus que lhe não dissessem aquillo.

Subitamente, soltou um grito de triumpho e poz-se a rir como doido. Ermelinda tinha aberto os olhos.

Mas, ao fital-os no pae, instinctivamente desviou a cabeça, como se o aspecto d’elle lhe causasse terror.

— Filha! disse o Cancella, tremendo de interpretar aquelle gesto e com maior consternação na voz e no olhar.

Ermelinda, sempre com os olhos fechados, começou a tremer convulsivamente e n’uma anciedade extrema.

— Deixe a pequena! — disse a beata — não vê que lhe faz mêdo? E com razão, pobre creança! depois do que viu!

— Pois eu hei de fazer mêdo a minha filha? — repetiu timidamente o pae. — Eu?! Ó Ermelinda... pois tu...

Um estremecimento, que correu pelos membros da rapariga, fel-o calar. Commovido, consternado, passou-a para os braços da velha, e sentou-se a soluçar como uma creança, dizendo entre gemidos:

— Perdi o amor de minha filha! perdi o amor de minha filha! Ai que desgraçado que eu sou!...

A scena era bastante commovente, para que se não sentissem impressionadas todas as pessoas que ella attrahira alli.

Houve um longo silencio, só interrompido pelos roucos soluços do infeliz, em quem entrára o desespero no coração.