Este silencio permittiu ouvir-se um vago som, como de musica longinqua, que, a pouco e pouco, se percebeu ser um côro de vozes femininas; cêdo a toada e depois da toada a lettra, principiou a tornar-se distincta.
Ouviram-se perfeitamente estas palavras:
Vinde, vinde, ó missionarios,
Com a palavra de Deus
Libertar-nos do peccado,
Encaminhar-nos aos céos.
O Cancella ergueu a cabeça e poz-se a escutar.
As vozes continuaram:
Minha alma por vós anceia,
Ó ministros do Senhor!
E o meu peito em chammas arde,
Em chammas do vosso amor.
O Cancella principiou a abanar a cabeça, e os olhos animaram-se-lhe de um fulgor extranho.
O côro soava cada vez mais perto, e dentro em pouco desembocou na rua, em que se passavam estas scenas, um singular cortejo.
O missionario, que nós já conhecemos, por o termos visto em pleno exercicio de suas funcções predicatorias, vinha seguido por uma cohorte de mulheres de roupas escuras e cabellos cortados, que cantavam em chorada cantilena estas e analogas quadras, que os missionarios ou os agentes seus teem quasi sempre o cuidado de vulgarisar como preparatorios dos animos impressionaveis das mulheres e das creanças.
Ia em meio uma d’estas quadras, quando se approximava a procissão da casa do Cancella.
Este já estava em pé no meio da rua, á espera d’ella.
O missionario viu aquelle homem grande e immovel no meio do seu caminho, aquelle agigantado vulto que, virado de costas para o poente, se lhe