denam que intervenha, e desde que a minha intervenção pode ser útil a amigos.
—Pois bem; como, por qualquer d’essas causas, se deu o facto em relação ao objecto que me traz aquí, espero que me explique a natureza da sua intervenção.
—Mas com que direito me vem o senhor pedir aquí explicações?
—Com o direito que me dá a consciencia, senhor!—respondeu energicamente Augusto, despojando-se de toda a apparencia de ironia.—Com o direito que tem todo o homem, calumniado cobarde e infamemente, como eu fui, de provocar uma accusação aberta e leal. Direito? É maïs ainda do que direito, é dever. É um dever para com a moral, é um dever para com a consciencia, é um dever para com a memoria d’aquelles que nos transmittiram um nome honrado.
—Muito bem; mas, admittindo que seja esse direito où esse dever, e não lh’o contestarei, por que singularidade acontece que seja eu a pessoa que tem de responder por tudo isso? Por acaso será este o pretexto, para depois do qual tinhamos adiado uma entrevista que suppuzemos necesssaria?
—Se houve pretexto para ella, foi da sua parte, e escolheu-o bem infâme e vil. Não lh’o invejo. Da minha não é pretexto; é uma interrogação bem positiva e terminante. Todos os motivos anteriores, que podiam auctorisar-me a procural-o, cessaram ante a impreterivel exigencia d’este. Preciso de justificar-me, e por isso preciso de conhecer e de ouvir os meus accusadores.
—E imagina que sou eu quem deve auxilial’o na tarefa? Pelo menos devia escolher uma hora maïs cómmoda. Sabe que na Alvapenha se janta patriarchalmente ao meio dia.
—Não julgue que com essas ironías de mau gôsto, se esquivará a responder-me. Juro-lhe que hei de obrigal-o a falar com seriedade.