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O brazileiro, o sr. Joãozinho das Perdizes, o latinista Pertunhas, alguns padres e lavradores, caseiros e camaradas do sr. Joãozinho, falavam, berravam e gesticulavam a um tempo.

O morgado das Perdizes, cujo animo fluctuava indeciso entre favorecer e guerrear o conselheiro, mas que, depois do despacho do professor que pedira e conseguira, como que sentia remorsos de o atraiçoar, achava-se agora muito abalado, porque na questão dos cemiterios era intolerante, não podendo levar á paciencia que quizessem enterrar um homem, como elle, n’um logar onde chovia e fazia sol, como n’um campo de centeio.

O brazileiro, conscio do valor do voto eleitoral do sr. Joãozinho, não se cançava de o catechisar, usando para isso de todas as armas e atacando-o por todos os pontos vulneraveis que lhe conhecia.

Era assim, por exemplo, que sabendo da sympathia e gratidão do morgado para com o herbanario, insistia muito sobre a dureza do coração do conselheiro, que privára cruelmente o pobre velho da sua propriedade, golpe fatal, que dentro em pouco o levaria ao tumulo; e a proposito contava como o herbanario pedira de joelhos ao conselheiro para lhe poupar a casa, e como este se rira das lagrimas do velho, porque tinha interesse em que não fôsse adoptado o outro plano, que lhe cortava uma grande porção dos proprios bens.

Ouvindo estas coisas, o sr. Joãozinho, que tinha mais de grosseiro e bestial do que de perverso, dava punhadas sobre a mesa, despejava copos de quartilho e dizia pragas sacrilegamente eloquentes.

Outras vezes era no tópico do cemiterio que ardilosamente o espirito tentador do brazileiro insistia. Fazia avivar a ideia ao morgado de que elle proprio tinha de ser alli enterrado, porque na freguezia de Pinchões iam tambem ser prohibidos os enterros na igreja, o que este negava, berrando; e todos affirmavam o mesmo que o brazileiro dizia, o que dava