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logar a novas punhadas, novas irritações e a novas pragas do sr. Joãozinho.

No dia que dissemos, multiplicára o morgado, mais que de costume, as suas libações de vinho; e com as faces injectadas, os olhos meio fechados, ouvia com irritação os commentarios dos circumstantes e distribuia com profusão pragas e murros.

— Com os diabos! — berrava elle, acabando de despejar um copo de quartilho. — Se me chega a mostarda ao nariz... sou homem para ir á igreja e obrigal-os a enterrar lá a pequena.

— Isso não se faz assim com essa facilidade e arreganhos — disse velhacamente o brazileiro, de proposito para o irritar ainda mais.

— Eu lhe diria se se fazia ou não, se se tratasse de coisa que me dissesse respeito!... Mas, lá com a filha do Cancella... não tenho eu nada... lá se avenham.

— A questão não é ser filha do Cancella ou deixar de ser; — tornava o brazileiro — a questão é do exemplo; enterrado o primeiro, enterram-se os outros.

— Menos eu — exclamou o morgado.

— Se Deus quizer tambem vmc. se ha de lá enterrar.

— Diabos me levem se...

— Pelos modos — disse um padre do lado — elles enterram a rapariga no tumulo da familia do conselheiro.

— Pois vêdes; se elles são todos da mesma confraria! — ponderou o Pertunhas.

— E se não, é vêr no outro dia o que o Herodes fez ao missionario! Então julgam que aquillo não foi combinação? — disse o padre.

— Dizem que o Herodes ganhou vinte soberanos para lhe bater — accrescentou um lavrador.

— A mim me disseram que trinta.

— Sempre uma pouca vergonha como aquella!

— E verão que não lhe succede mal.