Henrique de Souzellas sentia-se enlevado por esta scena. Aquella angelica creatura viera alli agradecer á Virgem o tel-o salvado! Aquelle anjo amava-o? Havia pois no mundo quem o amasse com um amor puro e candido, em que elle já nem acreditava. E cabia-lhe a suprema ventura de gosar um amor assim!
Magdalena via com alegria a commoção de Henrique.
A oração de Christina prolongou-se por alguns minutos.
Henrique murmurou, ajuntando as mãos:
— Deus te recompense, anjo, a consolação que me dás.
— Não peça a Deus o que está na sua mão — respondeu-lhe em voz baixa Magdalena.
— Que diz?
— Está ou não sinceramente apaixonado?
— Como nunca imaginei que fôsse possivel estar.
— Crê na pureza d’aquelle coração?
— Como na dos anjos.
— Está convencido de que o pode salvar, ella?
— Não ha crédo que professe com mais fé.
— Por que não vae então ajoelhar ao lado d’ella e jurar-lh’o?
— E consente?
A morgadinha respondeu-lhe, conduzindo-o ao principio de umas estreitas escadas que pela espessura da parede iam do côro para a capella-mór.
— Aqui tem o caminho — disse ella. — Siga-me. E, servindo-se da lanterna de furta-fogo, foi descendo com precaução. Henrique seguiu-a.
No fim da escada, Magdalena occultou de novo a luz, e, dados mais alguns passos, parou junto de um reposteiro.
— Agora faça o que lhe dictar o coração — disse ella para Henrique.
Este correu o reposteiro com precaução, e achou-se na capella.