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por momentos para receber algum agente eleitoral que o procurava, despachava um emissario; finalmente não podia socegar.

Foi na occasião em que elle consultava mais uma vez a lista dos recenseados d’aquelle circulo eleitoral, emquanto Henrique e Magdalena faziam por distrahir Angelo, conversando em varios assumptos, que entrou D. Victoria, a quem acabava de ser formulado por D. Dorothéa, e em nome de Henrique, o pedido da mão de Christina. D. Victoria trazia bem visivel na physionomia todo o jubilo que a nova lhe causára. Era muito amiga de Magdalena, mas desculpem-lhe esta vaidade maternal, o que mais que tudo a lisonjeára, fôra a preferencia dada por Henrique a sua filha sobre a morgadinha.

— Tenho muito que lhe ralhar, sr. Henrique — dizia ella. — Estou mesmo muito arrenegada comsigo.

— Por quê, minha senhora? — perguntou Henrique, sorrindo.

— Pois então isso é coisa que se faça? Já precisa de embaixadores para se dirigir a mim?

— Perdão, minha senhora! Era meu dever deixar completa liberdade a v. ex.a para fazer todas as reflexões que a proposta lhe suggerisse e discutil-a á vontade, e, por delicadeza, podia v. ex.a ás vezes, sendo eu mesmo quem a fizesse, cohibir-se...

— Ai, eu havia de pôr muitas dúvidas! Na verdade um rapaz de tão má nota! Ora sempre tem coisas!

— Visto isso, posso esperar?

— Da minha parte uma guerra de morte — disse D. Victoria, não resistindo a dar um abraço a Henrique, já com familiaridade de mãe; abraço que Henrique retribuiu com affecto.

O conselheiro não dava attenção á scena.

— Então, mano! — bradou-lhe D. Victoria. — Deixe lá essas politicas que temos negocios sérios em casa.