sacco, extrahiu um não muito volumoso masso de cartas, que despejou n’um cesto de vime, e tomou apontamentos.
Era digno do pincel de um artista aquelle grupo de physionomias, que seguiam ávidas todos os movimentos de mestre Bento. Olhos e bôcas abertas, mãos juntas, pescoços estendidos, a cabeça inclinada para receber o menor som, tudo caracterisava profundamente a anciedade que lhes dominava os animos.
Mestre Bento Pertunhas achou a occasião apropriada para dizer a Henrique:
― Pois, senhor, eu nasci para artista. Quasi sem mestre aprendi a tocar trompa e, não é por me gabar, mas prezo-me de tocar com certo mimo e expressão.
Henrique volveu o olhar para o auditorio; apiedou-o a consternação d’aquellas physionomias. Resolveu valer-lhe.
― Tem a bondade de vêr se ha alguma carta para mim?
― Ah! pois já as espera hoje?
― Não é provavel; porém...
Mestre Bento Pertunhas, em vista d’isto, começou em voz lenta e fanhosa a leitura dos sobrescriptos.
Seguiu-se novo e não menos interessante espectaculo.
A cada nome proferido, erguia-se quasi sempre uma voz, ás vezes um grito; estendia-se por cima das cabeças um braço, e, podemos accrescentar ainda que se não visse, alvorotava-se um coração.
Outros, os não nomeados ainda, olhavam com anciedade para o masso, que diminuia, e cada vez mais se lhes assombrava o semblante.
― Luiza Escolastica, do logar dos Cójos ― lia mestre Pertunhas.
― Sou eu, senhor, sou eu; ai, o meu rico homem! ― exclamou uma mulher joven, apoderando-se ávidamente da carta.