com Magdalena; era quasi uma vingança, que tirava d’aquella por quem soffria, obrigal-a a ser injusta.
E a sua consciencia quasi achava voluptuosidade n’isto!
O herbanario fôra victima da mesma illusão de Augusto, e concorrêra involuntariamente para o levar a este estado moral.
Das explicações dadas por Magdalena na casa dos Cannaviaes, sabemos como das meias palavras e meias revelações de Torquato, o herbanario acreditára que a morgadinha combinára imprudentemente com Henrique uma visita nocturna á quinta dos Cannaviaes. O velho, que suspeitára sempre da natureza dos sentimentos de Henrique para com Magdalena, julgou vêr n’aquillo a confirmação das suas suspeitas, e encontrando Magdalena, reprehendeu-a, e, de irritado que estava, nem escutal-a quiz.
Voltando a casa, o velho lidou por muito tempo com a dúvida, se deveria ou não revelar tudo a Augusto.
A noite cerrou de todo e deslizou com a lentidão de uma noite de inverno, sem que elle tivesse resolvido o que faria. O dia seguinte passou-o na mesma indecisão. Mas a inquietação do herbanario crescia; desassocegava-o a ideia do perigo a que suppunha exposta Magdalena, cuja confiança em Henrique a podia perder.
O herbanario continuava a desconfiar de Henrique.
Chegára a noite, aquella em que Torquato lhe dissera ter com uma das meninas de visitar á meia noite, por causa de Henrique, a casa dos Cannaviaes. O velho não pôde mais tempo conter-se e disse a Augusto, depois de muito luctar comsigo:
— Não devo calar-me. É preciso coragem, meu filho. Arranca do coração a loucura que lá tens ainda, embora o deixes em sangue, ou estás perdido.