242

dia voltou-lhe o juizo, mas ficou tão triste até morrer, que parece que tinha saudades da loucura! Talvez que lhe devesse os unicos instantes de felicidade que sentiu na vida.

O Herodes já não comprehendia Augusto, o que lhe fez crêr que o não entenderia se elle o tomasse por confidente.

Augusto mudou de tom, dizendo-lhe:

— Promettes passar por minha casa esta madrugada?

— Pois sempre quer?...

— Se não partir comtigo, partirei só.

— N’esse caso...

— Espero-te. Aonde vaes agora?

— Ao Mosteiro.

— Ah!... vaes ao Mosteiro?...

— Vou despedir-me d’aquella santa familia, que tão bem me tratou da filha, e de Angelo, d’aquella alma de cherubim, que ainda se não consolou tambem da morte da minha pobre Linda.

— Angelo?... É um nobre coração... Espera... Não quero partir sem lhe dirigir algumas palavras... Devo-lh’as.

— Só a elle?

— Só elle m’as agradecerá.

E Augusto approximou-se do tumulo da mãe de Magdalena, e á frouxa claridade d’aquella hora escreveu com um lapis em um quarto de papel estas palavras:

«Angelo. — Escrevo-lhe sobre a pedra do tumulo, em que repousam sua mãe e Ermelinda, duas imagens que serão sempre para o seu coração rodeadas de todo o prestigio da saudade. Ouça-me, que em nome d’ellas lhe falo. Dentro de algumas horas deixarei para sempre estes sitios. Se as memorias da infancia me prendiam aqui, as sombras de grandes soffrimentos as offuscaram. Parto quasi sem custo. Não o tornando talvez a vêr, Angelo, tinha um dever