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lhe como os do condemnado ao caminhar para o supplicio.

Chegára o momento de romper com todas as esperanças.

—­Estou prompto—­disse elle, abrindo a porta e voltando para dentro, sem reparar em quem entrava; e poz-se a réunir e a ordeñar os papeis que tinha dispersos na mesa.

—­Cuidei que era maïs cêdo—­continuou elle.—­Distrahi-me a ler umas cartas que estive a pôr em ordem, e o tempo correu. Vamos lá, meu pobre amigo, deixemos está terra para os venturosos.

E, dizendo isto, desviou o olhar para o sitio onde julgava que devia estar o Herodes; mas, em vez d’elle, achou deante de si Angelo e Magdalena, que, parados no meio da sala, o fitavam com melancólico sorriso.

Augusto estremeceu, soltando um grito de surpresa, e com o olhar fito em Magdalena, ficou por bastante tempo n’essa muda contemplação.

Magdalena foi a primeira que falou.

—­Admira-se de nos vêr aquí?—­disse ella.—­Que ha de maïs natural? Angelo recebeu a sua carta e mostrou-m’a. Tivemos ambos o mesmo pensamento; viemos para dizer-lhe... pelo menos o adeus que lhe deviamos... visto que vae partir.

E havia n’estas palavras de Magdalena um mal pronunciado tom de recriminação, que feriu Augusto.

—­E é certo que quer partir?—­perguntou Angelo.

—­Sim... parto...—­respondeu Augusto, perturbado.

—­Mas por quê? Que significa essa resolução? Lena contou-me ha pouco tudo. Eu nada sabia. Disse-me que o offenderam com uma suspeita infâme, e em nossa casa! Mas, já resolvemos; ámanhã, eu e Lena, havemos de falar, havemos de conseguir...