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— Então foi o Pertunhas?!... Mas... diz-se que tirou a carta de uma pasta!

— Era a de Augusto.

— Mas como estava ella ahi?

— Lá isso sei eu como foi, — disse D. Victoria — fui eu que, por engano, lh’a tinha dado junta com outras para elle escolher alguma para a leitura dos pequenos.

Christina celebrou a descoberta, beijando com effusão a morgadinha, e dizia:

— Venceste, Lena! agora está bem provada a innocencia d’elle, até para os que mais duvidavam!

— E quem não duvidaria? — acudiu o conselheiro, como para se desculpar da desconfiança.

— Quem o conhecesse bem, meu pae — respondeu Magdalena, a quem a commoção recebida dava animação ao olhar e ao semblante. — Eu e Angelo, por exemplo.

— E então eu? — accrescentou Christina. — Eu não entro na conta?

Esta reclamação valeu-lhe da parte da prima a paga do beijo que recebera.

— Olhem o pobre rapaz! — dizia D. Victoria, sinceramente consternada. — E eu que o tratei tão mal! Bem me dizia elle: «Não tenha pressa de dizer nada a seus filhos, minha senhora, não lhes ensine a duvidar de um homem que elles se costumaram a amar e a respeitar.» E o caso é que eu, desde que lhe ouvi dizer aquillo, de um modo tão sério e triste, fiquei resentida, e não disse nada ás creanças, que todos os dias me perguntavam ainda por elle.

— Mas... — dizia D. Dorothéa, deveras embaraçada — eu não sei ainda bem do que se trata. Pois suspeitavam de Augusto?... Mas o quê?...

— Ó tia Dorothéa — atalhou — Ó tia Dorothéa — atalhou Henrique — por quem é, não insista na pergunta. Depois que se sabe que uma suspeita é falsa, não ha nada que mais escalde