Passados segundos, Augusto retirou-se, apertando a mão a Magdalena que familiarmente lh’a estendeu, e a Henrique, que a imitou.

― Ia apostar que vae alli uma intelligencia ― disse Henrique ao vêl-o sair ― algum d’esses grandes espiritos, que vivem e morrem ignorados e improductivos, porque os não aquece o sol do favor publico, nem os bafeja a aura da moda caprichosa. É terra de maravilhas esta, ao que estou vendo.

― É um rapaz intelligente, é ― disse a morgadinha ― e uma alma generosa. Desde tenra idade costumou-se a trabalhar. Não tem familia. O pae foi um pobre e honrado advogado de um logar perto d’aqui, que morreu quasi na miseria, deixando-o por educar. A mãe, que era d’estes sitios, para ahi veio, depois que viuvou. Elle tem sido, pode dizer-se, mestre de si mesmo. Dirigiu os primeiros estudos de Angelo e hoje é o seu melhor amigo. A morgada, minha madrinha, legou-lhe um patrimonio para elle se ordenar: não quiz, e preferiu ser mestre-escola. Meu pae, que lhe reconhecia intelligencia para mais, tentou dissuadil-o d’isso, mas nada conseguiu. Não ha quem o arranque d’estes sitios.

― Prende-o talvez alguma paixão?

― Não sei. É certo que é um professor modelo. O seu primeiro despacho foi temporario; agora, porém, espera meu pae fazel-o effectivo; para o que já elle fez novo concurso. Já vê que ambições são as d’este rapaz.

― Na verdade! com muito menos fundamentos ha quem aspire a ser ministro. Mas com certeza o coração entra como elemento no problema d’esse caracter.

― Mas ainda agora reparo! ― exclamou a morgadinha ― eu esquecida a conversar, e sem avisar a minha tia e Christina da sua chegada! Não o fiz logo, porque as sabia occupadas em umas longas novenas, em que andam; mas agora é tempo. Vae,