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― Se eu sei o que tu estás ahi a dizer Lena! ― disse D. Victoria, que não tinha percebido bem o dialogo.

― É que eu, minha tia, teimei em fazer perder ao primo Henrique todos os maus habitos da cidade, com que veio para aqui. Sem isso não pode curar-se.

― Sujeitar-me-hei da melhor vontade a tão agradavel dominio.

― Principia mal, se principia com uma fineza. Já o avisei ha pouco...

― Será necessario tornar-me grosseiro, para me salvar? N’esse caso renuncio á cura.

― Grosseiro, não; basta que seja razoavel e sobretudo...

― Acabe.

― Acabo? eu sei? Eu ás vezes sou sincera de mais.

― Eu adoro as sinceridades.

― Já que o quer... É preciso que seja razoavel e sobretudo... desaffectado.

Henrique de Souzellas mordeu ligeiramente os labios, córando.

― Então acha?...

― Acho que está sempre a imaginar-se n’um salão; faz uns gastos de galanteria, desnecessarios e perdidos.

― Ó meninos, eu não vos entendo ― repetia D. Victoria.

Magdalena sorriu.

― Digo eu que...

Um criado entrando com as cartas do correio não a deixou continuar.

― Sempre chegou o correio! ― exclamou Magdalena com vivacidade, recebendo as cartas. ― Por que veio tão tarde?

― A mulher contou-me lá umas historias de uma quéda, e...

― Coitada! Aconteceu-lhe algum mal?

― Esteja descançada, minha senhora. Ella partiu já e era um gôsto vêl-a a correr.