—Ó Lena, Lena—diziam as creanças—o primo Angelo não torna para Lisboa?
—Ha de tornar.
—Ora!
—Olha lá, ó Lena—disse D. Victoria—sabes tu o que me lembra?... Mas eu nem sei... com estes criados que tenho... Mas a mim lembra-me... uma vez que teu pae vem com o pequeño... e... está agora cá o primo Henrique... lembra-me a mim... mas, já digo, era se eu pudesse contar com os criados que temos... lembra-me, juntarmo-nos todos para consoar... A prima Dorothéa tambem, e aquí o primo; mas era se...
Uma perfeita ovação acolheu o projecto; as creanças levaram as suas demonstrações de enthusiasmo até o delirio, penduraram-se ao pescoço, á cinta, ao avental da mãe, gritando todas a um tempo:
—Ai, sim, mamã, sim; mande convidar a tia Dorothéa, mande! E ha de ficar em casa, sim? Olhe e... e arma-se o presepe... e... e... e havemos de cantar as janeiras... Mande, mande, mamã, por as alminhas; ora mande.
D. Victoria fingia arrenegar-se com aquella pequenada, e erguia o braço, como para a fustigar asperamente, mas, contra a sua vontade, rompia-lhe o riso dos labios.
—Saiam d’aqui!—exclamava ella, quando conseguiu estar séria.—Saiam!... Não ouvem?... Espera que eu vos falò... Ai, não fazem caso? Ora esperem... Marianna, já devias ter maïs juizo... Então, Eduardo! Tu tambem? Não tem vergonha! Um homem quasi! Saiam d’aqui, estafermos!
A ideia das consoadas em familia fôra uma ideia que a ninguem deixára impassivel. Christina, a timida Christina, não disfarçou um movimento de jubilo; as mãos ajuntaram-se-lhe instinctivamente, e raiou-lhe no olhar suave um fulgor pouco costumado.