o pequeno, depois de um longo bocejo, adormecia encostado à parede.

— Tenho saudades do defunto vigário. .. declarou ela, com suspiro. Era uma boa alma!. . . Sempre bem disposto, alegre, amigo de pilheriar. . . E' o que não tem este agora, o padre Ângelo! . . . Não há dúvida que é muito santa pessoa, mas nunca vi criatura tão triste! . . . Até mete pena, coitado! . . .

— Ainda o não vi rir uma só vez. . . considerou Jerônimo.

— Muito! muito triste!... continuou a velha. As vezes, fica horas esquecidas à mesa, com os olhos pregados no teto, a cismar!... E a comida às moscas!.. Vão lá tirá-lo dali! Doutras vezes dá-lhe pra passear no jardim ou no cemitério, e então, adeus! E' preciso ir buscá-lo quase à força pra dentro de casa!

Põe-se então a andar pra baixo e pra cima, que nem uma alma penada, Deus me perdoe!

É que talvez esteja rezando... disse o hortelão, muito interessado com o que lhe contava a tia Salomé.

— Ainda ontem fui chamá-lo para falar ao filho do Mongol, que aí veio pedir-lhe que o casasse com a pequena do tio Jorge, e toquei-lhe no ombro. Pois acredita você, mestre Jerônimo, que o senhor vigário soltou um grito e ficou a olhar-me espantado, como se eu cá fosse algum fantasma?...