— E por que, tia Salomé?

— Ora! sei cá por quê?. . . Ficou mais branco que aquela cal da parede! E todo a tremer!. . . Já se vê, pois, que não rezava, porque ele quando reza, ouve-se-lhe a oração e vê-se-lhe o movimento dos lábios... Nessas ocasiões é até quando fica ao contrário um poucochito mais tranqüilo e de melhor humor. Cá pra mim, ninguém me tira da cabeça que ali anda tentação do cão!. . . Ali anda rabo de demônio!

— Ou talvez de saia!. . . acudiu o hortelão, coçando a cabeça.

— Credo, mestre Jerônimo! Não diga isso nem brincando, que brada aos céus! Aquilo é um santo! Olhe! Se frei Ozéas estivesse ainda aqui, juro-lhe que o senhor vigário não chegaria ao estado a que chegou! Até o acho meio apatetado! Deus me perdoe!

— Apatetado, tia Salomé? . . .

— Pois se lhe disser que de uma feita o deixei ajoelhado no altar depois da missa e que, voltando só à tardinha à igreja, para reformar o azeite da Virgem, encontrei o homem ainda na mesma posição!... Os braços abertos, os olhos ferrados na santa, e tremendo de frio, coitadinho! que metia dó! Chamei-o, qual "Senhor vigário! Ó senhor vigário!" Respondeu você, que lá não estava?. . . Pois assim respondeu ele! Afinal agarrei-o pelo braço e disse-lhe que aquilo não tinha jeito!