Ângelo vinha profundamente pálido e abatido, mas com a fisionomia serena. Um quê de tranqüilo cansaço imobilizava-lhe o rosto, não deixando distinguir bem qual a fonte da expressão que nele predominava. Seria a piedosa resignação do justo que, seguro da sua fé, caminhava de olhos fitos no divino ideal, passando, sem rasgar os vestidos da alma, por entre todos os espinhais mundanos; ou seria o surdo desfalecimento de quem, a pura violência, esmaga dentro do próprio peito a fecunda semente das suas mágoas, como a mãe desnaturada sufoca nas entranhas o palpitante fruto dos seus amores?

Vagarosamente atravessou a sala e foi sentar-se numa velha cadeira, ao lado da tosca mesa de carvalho.

A criada e o hortelão acompanhavam-lhe os movimentos com um lastimoso olhar.

— Boas noites, tia Salomé, boas noites, mestre Jerônimo, disse ele, cumprimentando-os humildemente.