E um longo suspiro saiu-lhe do fundo da alma.

Salomé, que do meio para o fim da divagação do presbítero se fora comovendo progressivamente dava agora repetidos soluços, limpando os olhos com o avental.

— Perdoe-me!... gaguejou ela; perdoe-me, sr. vigário!. . . Vossa reverendíssima tem toda a razão. . . Vossa reverendíssima é um santo. . . mas que quer?. . . Eu estava contrariada... Eu estou muito zangada! Tenho que ralhar!

— Por que, minha boa irmã?. . .

— Ora, porque! porque vossa reverendíssima pelo modo que vai, dá cabo de si!. . . Tem lá jeito! Levar até a estas horas com o estômago vazio, a andar por aí todo o santo dia, em risco de lhe acontecer como ao frei Ozéas!...

— E todavia não tenho fome. ..

— Mas há de sempre comer alguma cousa, senão é que me zango deveras!...

— Tenho é muito cansaço...

E assentou-se.

— Pudera não! Fazendo destas!... Isto até ofende a Deus!

E, de carreira, foi lá dentro em busca do que havia para cear.

Ângelo, mal se viu a sós, deixou pender a cabeça e pousou as mãos sobre os joelhos.

— Ah!... pensou ele. Como estou transformado, meu Deus! . . . Como eu próprio me desconheço! . . .