E prosseguiu, depois de uma pausa, deixando-se arrebatar no vôo do seu amoroso enlevo pelas cousas místicas:

— O santo missionário Francisco Xavier, quando percorreu a longa Índia com a sua esfarrapada sotaina, tocava uma campainha para atrair o povo, e entre este ia escolhendo os desgraçados de toda a espécie, para socorrê-los e dividir com eles a melhor parte do seu pão e do seu coração. Schwartz, Marshman, e quantos outros soldados de Jesus, afagaram toda a escala das misérias humanas, como se percorressem o doce teclado de um órgão, entoando hino de amor à Virgem Puríssima! Vicente de Paulo, reduzido à escravidão em Argel, humilhou-se de tal modo e com tamanha devoção, que acabou convertendo o seu herético senhor à fé católica. E mais tarde, em Marselha, ei-lo que desdenha a honrosa companhia do conde de Joigny, para ir coabitar com os galés, até chamá-los, a todos, um por um, ao caminho da moral e da religião de Cristo! Mas o próprio Cristo?.. . Não foi ele quem recolheu nos seus braços a pecadora das pecadores, a desgraçada repelida por todas as multidões? Não foi ele quem fez de Madalena o louro arcanjo da regeneração?... Não foi ele quem dela fez uma santa? Sim! Sim, Jesus, meu Mestre! toda a tua religião e toda a tua sabedoria se reduzem a esta palavra:— Amor!