— Nada mais simples, explicou o médico; tem um ataque de letargia. . . ou cousa que o valha!. . .

— Ah!

— Produto sem duvida de um profundo abalo nervoso. Vou tratar dele. Hei de curá-lo e estudar o caso, que me parece muito bonito. O que me convém saber é qual era o seu estado patológico antes desta crise, e qual o valor dos agentes estranhos que poderiam ter contribuído para ela. Como sabem, a nossa ciência neste ponto ainda está muito atrasada em toda a Europa. Quase nada se conhece desse grande mundo, extraordinário, fantástico, impalpável, quase incompreensível; esse mundo de fenômenos psíquicos fornecido pelas afecções nervosas! Basta dizer-lhes que entre nós a histeria é ainda um mistério; a sugestão magnética é um divertimento!! as suas singularíssimas manifestações escapam ao médico e são exploradas pelo clero, que as explica como obra do diabo e receita para todos os casos os milagres de Saint-Médard! Estamos mais atrasados que nas épocas empíricas de Platão; mas, tempo virá, meus amigos, em que esta mesma França, ignorante de hoje, há de dar sobre este assunto as mais belas lições de ciência. O futuro vingará minha obra, tão ferozmente amaldiçoada pela Sorbona e pelo Parlamento! Juro-lhos que a histeria, com todo o seu carnavalesco e brilhante cortejo