vosso peito de amor e perdão, sente-se fortalecida na fé e na confiança da vossa infinita bondade! Meu coração, pai dos desamparados, já me não quer saltar encandecido de dentro do peito em brasa, e meu sangue já me não ameaça sufocar o cérebro com uma terrível e infernal onda de fogo... Obrigado, meu Deus!
E acrescentou, depois de respirar de novo, sorrindo para o espaço:
— A luz da vossa divina graça principia a iluminar-me, como nos primeiros tempos da minha virginal pureza d'alma. Vou adormecer como dantes, como um justo, como um dos vossos servos bem-aventurados. . . Amanhã poderei enfim celebrar o sacrifício da missa, sem o menor escrúpulo de consciência. . . Já não recearei que meus lábios queimem a hóstia consagrada com o fogo que os abrasava. . . Obrigado, meu Deus!
E fez o sinal-da-cruz, ergueu-se, e recolheu-se à cama.
Daí a pouco dormia tranqüilidade, sorrindo
como uma criança.
A casa adormeceu também. Só se ouvia o vento da noite sussurrar nas folhas dos castanheiros lá fora na estrada.
Ângelo principiou a sonhar:
Um coro etéreo descia dos céus e vinha cantar-lhe ao ouvido o epitalâmio dos anjos. O nicho da Virgem iluminava-se de fogos cambiantes,