Tomou-o pelas extremidades e ergueu-o até à altura dos olhos.

Era sem dúvida um cabelo de Alzira!. . . considerou ele, perturbando-se. Era um triste e perdido raio de um sol que para sempre se apagara!. . .

E deteve-se a fitá-lo, embevecido de saudade.

Oh! por que Deus fizera assim longos os cabelos da mulher?. . . Por que lhos dera tão grandes e tão abundantes, se ela já não precisava deles, como outrora a Eva no Paraíso, para esconder a nudez de seu pudor?. . .

E continuava a fitar o tênue fio de ouro, perdido num dédalo de cogitações, que o arrebatavam para o mundo ideal das suas loucuras. Mas um sopro de brisa entrou pela janela do jardim e arrebatou-o dos dedos.

Ângelo acompanhou-o com a vista. O dourado fio de cabelo ondeou no ar, espreguiçando-se, e subiu ainda, para depois voltar de novo lentamente, até ir cair afinal sobre os brancos pés da imagem de Maria.

O pároco não se animou a reavê-lo, nem enxotá-lo daquele sagrado asilo.

Quem saberia, pensou ele, se Alzira, que já não tinha lábios, nem olhos, para suplicar, não houvera, do fundo do seu eterno desterro, mandado um fio dos seus cabelos transmitir à Virgem o voto do seu arrependimento?

E voltou à mesa, assentou-se, e, tomando o