conhecido, um mundo longe da terra e longe das suas duras melancolias religiosas.

E, cada vez mais taciturno e sombrio, seu vulto, quando agora vagava pelas estradas, já se não detinha aos gemidos dos desgraçados, nem ao riso alvar dos imbecis que escarneciam dele.

Salomé tinha razão: a cousa única que o preocupava agora, era o sono. Ângelo queria dormir tanto quanto possível, para sonhar muito. O delírio conquistara-o de todo. O sonho vencera a vida real.

Ângelo foi até ao seu quarto e parou junto à cama.

— Eis enfim o momento de dormir!... pensou ele. Dormir!— estranho modo de morrer! . . . Sonhar! — estranho modo de viver!. . .

E atirou o chapéu para o lado, desfez-se do capote e continuou a meditar:

— Sim, murmurou, sacudindo a cabeça; sim, eu vivo nos meus sonhos, e mentiria se dissesse que os não desejo... Desejo-os ardentemente; volto deles com a consciência aflita e dolorida, mas durante as longas horas do dia, nada mais faço que chamar pela noite, para poder correr aos braços de Alzira!... Será vida o sonho?. . . E por que não?. . . por que supor que esta é vida verdadeira e a outra não?. . . Por que, se ambas têm a mesma razão de ser? as mesmas dúvidas, as mesmas incertezas! . . . Não são