Conversava-se e ria-se.
Mas, de repente, calaram-se todos e todos se agitaram. Os que estavam assentados puseram-se rápido de pé.
Era o rei que chegava, acompanhado por sua pomposa comitiva.
Com um gesto frio e distraído Luís XV fez um ligeiro cumprimento de cabeça, e deixou-se cair na cadeira à frente da real tribuna, cruzando as pernas negligentemente e bocejando de tédio.
O olhar que ele lançou para os sorrisos e para as reverências, que de todos os lados 0 recebiam, foi um pálido olhar de desdém e cansaço. A ceia da véspera devia ter sido prolongada.
Ouviram-se, então, do lado do coro, as primeiras notas, severas e plangentes, do órgão.
Ia começar a missa.
Algumas pessoas preparavam-se já para a contrição. Muitos ajoelhavam, de mãos postas e cabeça baixa. O silencio estendia-se respeitoso. Vieram do alto vozes de cantores, e o vermelho cabido respondeu cá de baixo, também cantando, junto às suas estreitas cadeiras de alto espaldar de madeira negra.
Ângelo, ricamente paramentado com as vestes talares com que o presenteara o rei, tinha chegado ao altar, e, dentre uma nuvem de incenso, erguia-se no êxtase da sua oração, com os braços