das suas vozes ameaçadoras, há como que a repercussão de um inferno sufocado pelas águas! Afigura-se-me a cada instante que o oceano se vai abrir defronte dos meus olhos, e que então o inferno aparecerá com as suas goelas de fogo, pronto a devorar-me. Não compreendo, nem distingo uma só dessas vozes, não consigo destacar uma palavra ou uma nota musical de todo esse murmurar de espetros, não sei o que é que me preocupa e consterna, mas sinto a alma pequena e transida de medo, como se em volta dela girasse rosnando um bando de leões esfaimados!
E lançando os braços em torno do pescoço de Ozéas, terminou com uma explosão de soluços, deixando cair a cabeça sobre o peito dele.
— Não sei o que me cerca! não sei o que me ameaça! Mas tenho medo, meu pai! Tenho medo! Salve-me, por piedade!
— Tens medo! bradou Ozéas. Entretanto, hoje não devias ouvir, nem ver, nem sentir outras vozes que não fossem as vozes do céu! Tua alma devia estar toda voltada para ele e só a ele refletindo, como um grande lago quieto, cristalino e límpido, cuja superfície não toldasse sequer a asa de uma abelha. . .
— Bem sei, bem sei, meu pai! soluçou Ângelo; mas, a despeito dos meus esforços, outras vozes vinham ainda há pouco misturar-se às vozes celestiais, outros perfumes perturbavam os aromas