da manhã; uma pequena xícara de chocolate e dois biscoitos de Reims.

Um rico dominó de seda negra, arremessado sabre uma cadeira, e uma meia máscara caída sobre o tapete, diziam que nessa madrugada se recolhera ela depois de um baile; e um pobre lenço de rendas preciosas, que jazia a um canto estraçalhado em tiras, denunciava todo o frenesi de tédio com que a linda condessa, à volta do baile, entrara nos seus aposentos.

Mas agora, sozinha no perfumado e tépido remanso da sua antecâmara, parecia já esquecida dos aborrecimentos da véspera, alheia a tudo que a cercava, e só entregue e abandonada, volutuosamente, à memória do venturoso sonho dessa manhã.

Pensava em Ângelo. Via o em meio dos esplendores da igreja, cercado de ávidos olhares, surgindo, todo paramentado de ouro, dentre uma nuvem de incenso. Via-o, formoso e cândido, de braços abertos, defronte do altar, com os olhos virginais voltados para o céu. Via o trêmulo sorrir da sua boca de anjo, via o melancólico balancear dos seus negros cabelos de meridional. Tinha-o todo inteiro e todo vivo defronte da sua alma, pela primeira vez enamorada; tinha-o ali, defronte dela, com a sua misteriosa palidez de flor de estufa; tinha-o com aqueles lábios tão divinos e tão puros, com aqueles gestos donairosos e tranqüilos, com aquela