voz embriagadora, que parecia sair de uma garganta de cristal e sândalo.
Tinha-o todo inteiro, e sentia-lhe até os perfumes do damasco da sua vestimenta, o aroma do seu hábito e o bálsamo dos seus cabelos.
E Alzira espreguiçou-se com um profundo suspiro, de olhos fechados e lábios entreabertos, dilatando o pescoço, como se procurasse alcançar com a boca a sombra de uma outra boca fugitiva.
E deixou-se cair sobre a almofada do divã, suspirando de novo, inconsolável na sua deliciosa mágoa de amor.
O que em Ângelo a fascinava daquele modo, o que a arrastava para ele tão irresistivelmente não era, todavia, a singular formosura do pálido presbítero, mas a sua fenomenal pureza de corpo e de alma; era aquela sedutora virgindade, ligada a tão altiva e clara inteligência.
Ela, que vira rendida a seus pés a fina flor de espírito parisiense e a flor brilhante de toda a fidalguia do seu tempo, e que nunca se deixara escravizar pelo ouro dos nababos, nem pela vermelha glória dos heróis vitoriosos, ou pela glória azul dos poetas endeusados; ela, que até aí jamais entregara os pulsos, sequer por um instante, a uma dessas paixões, que fazem da pessoa amada o dono e senhor exclusivo da nossa vida e dos nossos pensamentos; ela, a insensível