ser. essa abstração de minha existência para absorver-se noutra, era a atração moral e nada mais. Via, admirava, adorava na senhora uma coisa somente: sua alma. Não sabia, ainda hoje não sei, se a mulher que eu amo é bonita para os outros; sei que para mim é de uma beleza divina. Perdesse ela a graça e a formosura que aos outros seduz, para mim seria a mesma; eu havia de adorá-la com o mesmo ardor. Sua alma é filha de Deus, e como ele de uma magnificência imortal. É uma estrela que não tem eclipse.
Leopoldo inclinou a fronte para falar quase ao ouvido da moça:
— Outrora julgava impossível que se amasse o horrível. Agora reconheço que tudo é possível ao amor verdadeiro, ao amor puro e imaterial. Não só reconheço, mas sinto-me capaz de nutrir uma dessas paixões mártires! Oh! sinto-me capaz de amar o anjo ainda mesmo encarnado em um aleijão! . . .
Leopoldo falou ainda por muito tempo de seu amor a Amélia, sem que ela se animasse a interrompê-lo. Aquela palavra ardente, impetuosa, embora vendada por certo pudor d'alma,