— Ora!... Que tem um pé deste tamanho, disse a moça mostrando o bordado.
— Deveras? acudiu Horácio.
— Ela pensa que é um aleijão e sente uma tristeza...
— Na verdade, possui um tesouro, um primor! Admira como sua amiga já não morreu de desgosto.
— Mas, falando sério: não é natural que uma moça tenha o pé de uma menina de sete anos.
— Não sei se é natural; mas sublime, asseguro-lhe que é. Há certas graças na mulher que devem ficar sempre meninas; as huris, as fadas, as deusas, são assim.
— Com efeito! Se eu fosse ciumenta!
— De sua amiga?... De uma amiga tão íntima?... Era quase ter ciúmes de si mesma! disse Horácio gracejando.
— O que o senhor quer, sei eu. É ver se adivinha.
Horácio tinha sustentado esta conversa com interesse extremo, menos pelas palavras da moça, do que pelos movimentos da fímbria do vestido. A saia, arregaçando gradualmente com a inflexão do talhe gentil da moça reclinada sobre o bastidor, prometia