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A primeira mulher de Camilo

 

vára ao matrimónio como se fôra qualquer dos seus brasileiros que, regressando à terra natal, houvesse desposado a filha do feitor, rapariga tão apetitosa quanto humilde.

Camilo receava até a possibilidade de se falar nisso, consoante disse António de Azevedo na carta já citada.

Quando, tendo-me pedido informações sobre o trabalho da sua biografia, eu lhe confessei lealmente no Hotel Borges, em Lisboa, que possuia uma certidão do seu primeiro casamento, Camilo retorquiu-me, excitado:

— Esse casamento foi uma infâmia.

A isto respondi eu com a mesma lealdade:

— Tenho provas de que foi apenas a consequência duma criancice aos dezasseis anos.

Mas essa criancice, que teve uma sanção honrosa, e que, portanto, não podia nem devia envergonhar Camilo essa legalizada aventura primaveril, que êle tanto queria recatar no maior sigilo, muitas vezes a recordou intimamente com secreta saudade, sem todavia a querer confessar francamente.

Espero demonstrá-lo nesta monografia, cujo plano comportará, primeiro, o que já escrevi sôbre o mesmo assunto no Romance do romancista, nos Amores de Camilo e no prefácio da sua comédia póstuma O