— Para o servir, e a vos'senhoria no que mandar deste seu servo.
— Obrigado, meu velho.
Essa cortesia antiga, inspirada na religião, e a voz grave e arrastada do velho, junto à expressão doce de seu rosto, me excitaram viva simpatia.
— Vai hoje muito tarde para a pesca? disse-lhe eu reatando o fio do diálogo.
— Quem sabe quando irei? A tempestade não tarda conosco. Cuidei que adiantava saindo mais cedo, e afinal de contas atrasei.
— Mora longe daqui?
— Lá embaixo! respondeu apontando para a praia que se prolonga ao norte.
Os relâmpagos fuzilavam amiúde; e a chuva começava a bater no telhado.
— Então tenha vos'senhoria boa-noite; vou ver se me arranjo para passar o aguaceiro, que promete durar.
— Ah! veio abrigar-se aqui? E não tem medo deste teto esburacado e destas paredes rachadas?
— Será o que Deus for servido. Não é a primeira vez que me tem sucedido ficar aqui boa parte da noite, e até hoje nenhum mal disto me veio.