— Ora, diga-me uma cousa?...
— O que é, meu senhor?
— Por que cantava baixinho uma... ladainha, se não me engano?
O velho sorriu com brandura.
— Era o terço. Minha mãe me recomendou que cantasse sempre que houvesse tempestade; e isto me ficou desde menino.
Estava tudo explicado. A minha visão fantástica tinha-se desvanecido, deixando a realidade do encontro simples e natural com um pescador que fora ao convento abrigar-se da chuva.
Pensei em recolher-me.
— Sabe por que lhe fiz esta pergunta?
— Vos'senhoria me dirá, respondeu o velho.
— Pois confesso-lhe que me causou um grande susto. Quando ouvi a sua cantiga, e o vi de longe no meio destas ruínas, tão fora de horas, cuidei que era... Acredite! Uma alma do outro mundo.
— Ainda sou deste, graças a Deus, disse o pescador sorrindo, bem que por pouco tempo.
— Há de sê-lo por muitos anos.
O velho abanou a cabeça.
— Os oitenta já lá vão. Mas deixe-me dizer-lhe... Também a mim, quando o enxerguei, no que a