Já ouvi, não me recordo n'este momento a quem, que o livro dos Sonetos lembra tambem em muitos pontos o Diario de Amiel. É que realmente estas duas obras, diversissimas entre si, filiam-se na mesma necessidade inteiramente moderna que o homem sente de auscultar-se, de conhecer-se, e de fazer a si proprio innumeras perguntas.
A antiguidade não tinha este prurido de penetração psychologica; por isso a antiguidade foi feliz, radiosa, activa e sã.
Comtudo, dado o nosso gosto pronunciado para este genero de estudos, ainda bem que Anthero escreve, e que Amiel escreveu. Se o primeiro não tivesse cantado muitos dos seus adoraveis e extranhos sonetos, se o segundo não tivesse notado, momento a momento, os cambiantes de uma alma tão extraordinariamente e tão morbidamente complicada, perder-se-hiam documentos inapreciaveis para o estudo completo da alma contemporanea.