O estylo d'este livro é uma verdadeira festa para o ouvido, e direi mesmo para os olhos; tanto as palavras teem n'elle uma côr, um relevo, um encanto, estranhos e indiziveis. Ha periodos que são quadros.
Parece que o escriptor poz na sua palêta todas as côres, na sua pintura todos os tons, toda a luz do sol no objecto que contemplou.
Nunca a lingua portugueza adquiriu flexibilidade mais ondeante, energias mais dominadoras, graça mais sinuosa e mobil, ondulações mais serpentinas, rythmo mais harmonioso, poder mais intenso, vitalidade mais estranha.
Esta lingua, que modernamente poucos operarios teem affeiçoado para as exigencias multiplas e caprichosissimas da Arte contemporanea, tem nas mãos de Ramalho Ortigão umas docilidades de mulher do Oriente, uns langores submissos de escrava creoula, uma energia mascula, uma limpidez matinal, uma intrepidez heroica,