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a sua affeição para francamente se pôr em campo pelos que lhe agradavam.

O Vilhegas porêm não desistiu e com o gesto largo e o tom emphatico de quem sonha bancadas parlamentares ainda accrescentou:

— «Oh senhora baroneza, mas isso é negar toda a virtude e condemnar sem remissão uma sociedade de que V. Ex.ᵃ faz parte.

— «É por isso que fallo com conhecimento de causa, o que se requer é hypocrisia e dinheiro, bem sei, sentimentos intimos e nobres são frioleiras... Pois se ha pessoa que esteja acima de todos os egoismos e mentiras é Isabella, pode crêr! Se casa com João é porque decerto muito o ama.

— «Oh, dizem que sim, — atreveu-se a dizer a Aurora Cunha, que havia algum tempo estava morta por fallar, retrahindo-se logo com acanhamento — um amôr assim nunca se viu. Andam ambos tão felizes, tão contentes, que até dá gosto vê-los.

— «A menina vae lá? — perguntou a baroneza com interesse.

— «Eu era amiga da Pillar, que me tratava com muito agrado. Agora vou lá menos, mas a Engracia, que é muito amiga da minha avó, foi hontem fazer-lhe uma visita e contou isto. Lá em casa gostam tanto da noiva, que até ella, que d’antes só fallava na sua Pillarsinha, agora já diz que esta é um anjo do céo que Deus lhes mandou para pagar o roubo que lhes fez...

O Vilhegas torcia-se nervoso desde que a conversa tomara aquelle rumo, e Hortensia desviava a cabeça com enjôo, contando, por disfarce,