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souberam aconselhar a mulher que apenas tinha vivido pela alma. Disseste-me que fingisse — fingi! Que ninguem devia vêr as minhas lagrimas — e ninguem as viu senão tu. Mas que friesa tumular foi a nossa vida desde então! O capricho que lhe inspirei esvaira-se, como fumo, n’aquella alma inconstante. O sincero affecto que eu lhe dedicara tinha morrido sem que eu soubesse como. O que então mais soffria em mim era o que já não tenho hoje — o orgulho, a vaidade de mulher nova e bonita.

Que vida a minha! Se eu tivesse um filho — a suprema aspiração da minha alma — então teria ainda esperança de ser feliz, assim!... Mas se o tivesse, que dôr eu sentiria vendo-o despresar seu pae, porque o despresaria decerto, e nada se pareceria com elle. Desgraçado, não lhe tenho nenhum odio. Odio só tenho á sociedade que me liga eternamente a um homem que me despreza e a quem egualmente despreso. Só isso me faz ainda vibrar os nervos n’uma revolta! Has-de perguntar para que queria eu a liberdade dada pela lei, visto que já nada espero do mundo?...

Não sei. Era livre, ao menos, não tinha o meu nome ligado ao d’elle — já era alguma coisa!

Olha, Isabella, quando criança sonhei uma vez que ia por uma estrada cheia de sol e poeira. Caminhava, caminhava n’um desconsolo de cansaço e solidão. Muita gente passava por mim e corria para a frente empurrando-me e deixando-me cada vez mais desconsolada. Os campos em volta eram d’uma aridez desolante — nem um pedaço de paisagem verde, nem uma