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sombra onde podesse descançar os olhos mortificados. No fim de tanto andar, que os pés em sangue já se recusavam a continuar a marcha, encontrei a sombra rachitica d’uma arvore, cahi extenuada e alli fiquei sem pensar em mais nada. Das pessôas que tinha visto, muitas voltavam abatidas e tristes, outras corriam ainda para a frente, lindas de esperança e alegria.

Vendo-me tão abandonada, os conhecidos chamavam-me, os outros olhavam-me lamentosos, e eu, indifferente a uns e a outros, não me levantava, cançada para sempre d’esse caminho árido. Levantar-me, para quê?

A traz sabia eu que nada havia bom, para a frente não tinha coragem de procurar saber.

A minha vida é isto, Bella: fecho os olhos e deixo-me adormecer na desgraça — que me falta a coragem para procurar existencia melhor.

Não sei se comprehenderás esta carta, que não tenho coragem de reler. Vae n’ella toda a minha alma ansiante acolher-se ao teu coração honesto. Dize-me que vivo, que eu já não sei o que isso é!

Adeus. Lembra-te sempre da

tua:

Maria Helena.

P. S. — Esta carta escripta hontem vae tal qual a senti e a penna a traçou; não a rasgarei para te dar mais uma prova de quanto confio no teu affecto. A mamã está mais socegada e com a sua saude volta-me a coragem e o sangue frio para ver claramente a situação que meu marido me deixou.