12 do janeiro de 1866.
Sua folha, sempre lida com prazer, trouxe-me há dias, grande satisfação.
Não foi produzida pelo esmero da cortesia que recebi; essa é própria do elegante escritor: eu a esperava.
Sinto que me inibisse de a retribuir. Copiosa é a língua portuguesa, especialmente em assunto de galanteria tão culto dos nossos maiores. Sobejou porém a gentileza, que a exauriu na página seleta onde só desmerece o motivo.
Reverter a bizarria com os mesmos termos, seria sobre monótono, sediço. Frequente nas colunas editoriais do Diário sente o público o fino quilate de uma alma de lei, e o brilho de uma inteligência da melhor água.
A satisfação a que aludo, e satisfação íntima, tem outra causa.
Vou confessá-lo em toda ingenuidade. É o receio que de envolta com muita simpatia manifesta o nobre redator de ser eu arrastado pelo desencanto até o absolutismo.
Imagino a aflição de um sacerdote inspirado da liberdade, a pensar que o devoto sincero do mesmo culto sagrado, vacila na fé e resvala já para a apostasia.
Na mesma ocasião em que eram enunciados tão cordiais sentimentos, publicou seu jornal uma carta de S. Paulo. Devo ao hábil correspondente lindos elogios, que por meu mal foram logo rebatidos em praça com usura.
Sou nada menos do que — «o crocodilo feroz do despotismo, disputando a admiração dos poucos crédulos que ainda restam e os tênues almejos do magnânimo coração do rei insonte...»
A reticência não é minha; sim do indignado escritor que some-se por ela e logo após surge para mandar-me literalmente ao diabo sob a conduta de Horácio. Não sabia que eram conhecidos velhos, o lírico latino com o anjo decaído.