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Então é preciso ter saído do Brasil, ter viajado o mundo, para saber uma coisa tão atôa como essa? Basta um pouco de raciocinio.

— Pois raciocine e responda á minha pergunta.

Pedrinho pensou um bocado e disse:

— Vale contos de réis. O valor das coisas está em relação com a raridade delas, diz vóvó. Numa terra onde haja centenas de rinocerontes, um deles vale... vale quanto? Vale o mesmo que um boi ou uma vaca. Mas em terra onde não ha nenhum, vale o que fôr pedido pelo seu dono. Eu, por exemplo, se fosse rico, era capaz de dar até trinta contos por um rinoceronte.

— Bom. Se fosse rico dava trinta contos. E quanto dá, sendo pobre? Tinha coragem de dar por um deles o carrinho de cabrito?

Esse carrinho de cabrito constituia o orgulho do menino. Fôra presente do Manoel Carapina, um carpinteiro que passara ali dois meses reformando os assoalhos da casa. Pedrinho dava mais valor ao carrinho do que a todos os cóches dourados de todos os reis da terra — pela simples razão de que o carrinho lhe pertencia e os cóches pertenciam aos reis. Mas

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