Fazia já dois meses que a policia se preocupava seriamente com o caso do rinoceronte fugido, tendo mesmo organizado um serviço especial de investigação para descobrir-lhe o paradeiro. Havia um chefe geral do serviço, que ganhava tres contos por mês, e mais doze auxiliares com um conto e seiscentos. Essa gente perderia o emprego se o animal fosse encontrado, de modo que o telegrama de dona Benta os aborreceu bastante. Em todo o caso, como outros telegramas recebidos de outros pontos do país haviam dado pistas falsas, tinham eles esperança de que o mesmo acontecesse com o de dona Benta. Por isso vieram. Se tivessem a certeza de que o rinoceronte estava mesmo lá, não vê que vinham!
Certa manhã, quando tia Nastacia se levantou de madrugada e foi abrir a porta da rua, deu com o animalão a vinte passos de distancia, olhando para a casa com os seus olhos miúdos. A negra teve um faniquito dos de caír desmaiada no chão. Ouvindo o baque do seu corpo, todos pularam da cama — e foi uma dificuldade faze-la voltar a si. Desmaio de negra velha é dos mais rijos. Por fim acordou e, de olhos esbugalhados, disse, num fiozinho de voz:
— O canhoto já foi embora?
Ninguem sabia do que se tratava, porque ninguem havia ainda olhado para o terreiro.
— Que canhoto? indagou dona Benta.
— O tal do chifre só na testa, respondeu a negra. Estava aí fóra quando abri a porta...
Só então os meninos espiaram pela janela e viram que o rinoceronte estava de fato no terreiro.