Vaz Caminha cursou todas as cadeiras, das quais fez exame privado. Defendendo sucessivamente as conclusões magnas exigidas pelo Estatuto da Universidade, tomou um após outro os graus que então havia de bacharel, mestre, licenciado e doutor; e ganhou na sábia congregação de Coimbra a fama de um dos mais profundos romanistas do tempo.
O legista recolheu-se então à sua vila natal; aí, entregue às lides forenses, teve a nobre ambição de ilustrar seu nome obscuro; aproveitando os momentos que lhe deixavam os clientes, como depois fez Lobão, empreendeu escrever um Comentário às Ordenações Manuelinas, obra de plano vasto, em que se investigavam as verdadeiras fontes daquele código do direito português.
Correram os anos. Vaz Caminha concluiu sua obra, limou-a conforme o preceito de Horácio, e sentiu o desejo muito natural de trazer à luz o fruto de suas longas vigílias; mas então a imprensa era um luxo dispendioso, e as cópias em pergaminho, a que se recorria na falta daquele agente da circulação, não custavam menos.
Ora, o foro de Arraiolos era escasso; o advogado poucas economias tinha feito, apesar da parcimônia com que vivia; de modo que a obra estava condenada a jazer