dos lábios, ele prosseguiu com desafogo e veemência:
— A vez que primeiro a vi foi há cerca de três anos, e em todo este tempo, mestre, não a tornei a ver mais que três sem contar o dia de ontem.
— Referi como isso aconteceu.
— Não imaginais quanto me deleita o mar. Houve tempo em que foi meu passatempo sulcar a baía na canoa de um rapaz da ribeira, que me conheceu de muito criança. Fazia-o às ocultas vossas e de minha boa mãe, pelo susto que vos poderia causar a ambos, do que agora me escusareis.
— Deus escreve direito por linhas tortas! interrompeu o advogado a meia voz e sorrindo.
— Dizeis?
— Prossegui, filho.
— Foi em dias de setembro, sobre tarde. Ventava rijo; as ondas andavam altas e cruzadas; a travessia inchando o seio à vela; e o barquinho a pular sobre o grosso marulho, como passarinho de ramo em ramo. Tudo isso era festa para mim, festa da natureza mais fermosa e gentil do que a fazem os homens.