“O canoeiro tinha a escota, eu o governo. Íamos fronteiros com a Graça, rumo da barra; eis que uma galeota apavesada de sedas luzidas, a todo o pano e voga arrancada, fez-se na volta da Escada e veio sobre nós fendendo as ondas galhardamente. Trazia suspensa a ponta do reposte de damasco azul; e ali, como em um canto do céu, estava, de menos as asas e de mais a gentileza, uma figura de anjo. O mesmo foi verem-na os olhos meus que cegarem logo. O realce da celeste visão enlevou-me em um só e rápido instante o espírito e a vontade; mas tanto bastou para que o mar nos arremessasse contra a soberba galeota. O frágil esquife espedaçou-se. Esteves cortou direito à praia; eu não sei por que fui-me no seguimento do barco que singrava os mares alterosos. Um cavalheiro, que soube depois ser D. José, irmão seu, saíra da tolda ao rumor produzido pelo soçobro da canoa. Descobrindo-me que nadava a poucas braças, voltou-se para os escravos da voga e intimou-lhes uma ordem em tom iroso e assoberbado:
“— Leva remos!... Um calabre àquele mariola!... Outro merecia ele para se não atravessar ao caminho da gente.