“Ainda agora, mestre, repetindo-vos esta palavra, sinto que ela me escalda o sangue; imaginai o que seria naquele instante. Minha vontade era poder ali mesmo desafrontar-me. Quanto a aceitar um socorro que me era atirado de envolta com o ultraje, se em tal pensasse, me teria por indigno e vil. Arrojei de mim com desprezo e mofa o cabo que me lançaram. Ainda que me considerei perdido havendo por impossível ganhar a praia tão distante, segui na esteira da galeota, onde o surco cavado na onda me ajudava.
“O anjo, que eu vira de relance para minha desventura, surgiu outro instante de longe, reclinado sobre a onda, olhando-me entre sentida e admirada. Encomendei a ele minha alma, por que a levasse ao céu, quando deste mundo se partisse; e bem próximo estava, que as forças me faleciam, e o corpo hirto não respondia já ao aflito ânimo. Então lembrei-me de vós, mestre, e sepultei-me no fundo do mar. Entre o rumor das vagas que se abriram para tragar-me, ouvi como uma voz suave que já me acolhia na bem-aventurança:
“— Jesus!...